leandromoscatelli – Templo Pena Azul https://templopenaazul.com.br Bem-vindo ao Templo de Umbanda caboclo Pena Azul Fri, 05 Jul 2024 16:58:52 +0000 pt-PT hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.6.2 https://templopenaazul.com.br/wp-content/uploads/2024/06/cropped-ico-32x32.jpg leandromoscatelli – Templo Pena Azul https://templopenaazul.com.br 32 32 As Lagrimas de um Pai de Santo – VII https://templopenaazul.com.br/2024/07/05/as-lagrimas-de-um-pai-de-santo-vii/ https://templopenaazul.com.br/2024/07/05/as-lagrimas-de-um-pai-de-santo-vii/#respond Fri, 05 Jul 2024 16:57:10 +0000 https://templopenaazul.com.br/?p=328 Aquele pai de santo sabia quais seriam os trabalhos que teria, sabia que as forças negativas já estavam atuando em seu templo, haviam-no avisado as entidades.

Dias antes ele fez a limpeza do templo para que tudo corresse em harmonia, pois teria grande responsabilidade perante suas divindades.

É chegado o grande dia, cinco cabeças, cinco forças, tudo teria que ser preciso, não seriam aceitas falhas.

O preparo foi um sucesso, as divindades aceitaram tudo que foi feito com muito carinho.

Dia de festa, a tronqueira bem firmada, os médiuns e as visitas chegando, todos com a euforia natural de um acontecimento destes.

Aquele Baba a tudo observava, atento a qualquer investida do astral inferior.

Um a um as divindades foram se apresentando, a cada passagem uma alegria, uma emoção, lágrimas corriam sobre os rostos dos presentes, a energia contagiava a todos.

Aquele Baba não tinha tempo de sentir todas as emoções do momento, pois tinha a responsabilidade de conduzir até o interior do templo seus orixás.

Fim de festa, todos se retiram orgulhosos do feito realizado, o Baba também vai para seu lar, pleno da realização, pois sabia que tinha sido abençoado por todos eles.

Hora do repouso, aquele Baba se deita, mas o sono não vem, tenta conciliar mas é difícil, pois as energias ainda fluem por todo seu corpo, seus pensamentos estão na realização, na força, demora mas adormece.

No mesmo instante ele se vê diante de seu altar sagrado, de joelhos, ele começa então sua oração, pois sabe que alguém irá se manifestar, quanto tempo orou não é possível precisar, mas em dado momento sente que alguém está em suas costas, ele se vira lentamente e vê o guardião do templo postado.

Salve meu senhor, sua benção.

Salve Baba, que as forças do alto e do embaixo o abençoem como sempre o tem abençoado.

Por que estou aqui, meu senhor?

Baba, não sou senhor de ninguém e você mais do que ninguém sabe disto. Por que insiste em chamar os seus iguais de senhor?

Acaso sou diferente de ti?

Sagrado guardião, sabes que lhe tenho muito respeito e pela hierarquia que tens nesta casa devo-lhe ainda maior devoção.

Baba meu irmão, quantas vezes terei que mostrar-lhe a grandeza que trazes no coração?

Somos unidos por laços da eternidade, que não se arrebentam pela força da reencarnação, sou um servo e estou aqui para servir, assim como você.

Mas, meu irmão e mestre, por que vim para Ca?

Vieste para que tenhas noção do que fez, vieste para ver com os olhos do espírito tudo que realizaste perante nossas divindades os sagrados orixás.

Mas, não vejo nada de anormal, tudo está como deixei ainda a pouco.

Olhe com os olhos do espírito Baba.

O sagrado guardião do templo tocou-lhe a fronte e seus olhos abriram-se para o lado divino da criação, sentados em seus tronos divinos estavam todos os orixás reverenciados naquele templo, todos sorriam abençoando aquele Baba.

Não contendo as lágrimas, mais uma vez ele as deixou cair, chorou como uma criança chorou como um adulto chorou como um pai.

Os orixás o olharam ternamente e disseram todos ao mesmo tempo, mas cada um em particular.

Sagrado sacerdote, estamos felizes, pois você nos honrou, fizeste com que seus filhos sentissem no coração a presença de Deus nosso amado pai e divino criador, plantaste em cada coração a semente do bem e do amor que sentimos por todos, por isso estamos aqui, por isso em nome do pai criador o abençoamos.

Com a testa encostada no solo em respeito e reverência aos divinos orixás, disse aquele pai de santo:

Sagrados orixás, regentes de minha amada Umbanda, nada fiz além daquilo que acredito apenas passo aos meus o que sinto no coração e o que sinto é o imenso amor de Deus manifestado através de vossa sagrada presença.

Levante-se Babalaô, fique de frente para nós seus pais e mães orixás, queremos vê-lo de frente.

Amados pais, não sou digno de estar em vossas presenças, quanto mais estar de frente para vós, permita-me ficar aqui com a testa no solo.

Não baba, não permitimos, nós vos queremos de pé.

Aquele pai de santo levantou-se lentamente, suas faces estavam molhadas pelas lágrimas que teimavam em cair, olhou os divinos nos olhos e sentiu que um fogo o queimava.

Sagrado Babalaô, em nome do divino criador nós o abençoamos pela sua fé, pelo seu amor, pelo seu conhecimento, pela sua justiça, pela sua lei, pela sua evolução e pela sua geração, em nome do divino criador nós o marcamos com os símbolos sagrados da Umbanda,l serás reconhecido em todos os cantos em que andares, na carne ou fora dela.

A luz irradiada pelos divinos que ali estavam iluminava por muito kilometros, as energias partiam deles e retornavam sem parar, aquele pai de santo chorava ainda mais, pois não se sentia digno de receber todas aquelas honrarias, chorava sem parar.

Por que ainda chora Baba?

Senhores do alto do altíssimo, minhas lágrimas já não são dolorosas como as venho derramado e maculado vossos mantos, mas são lágrimas de alegria por estar diante de vossas presenças divinas, por poder transmitir aos que me seguem que sois a luz do criador a nos guiar, senhores sou apenas um servo a caminho da evolução tentando retornar a vós, que são as manifestações do divino criador.

Que suas lágrimas lavem este chão sagrado Baba, e todos aqueles que aqui pisarem sintam na umidade das lágrimas que derramas a forças dos regentes da criação, que sintam a presença do divino criador, pois se somos a manifestação dele, tu és a força do próprio Deus.

Aquele pai de santo mais uma vez ajoelhou-se e tocou com sua testa no solo, quando se levanto estavam apenas ele e seu guardião.

Eles já se foram?

Foram para onde baba, ele nunca estiveram em outro lugar, habitam aqui mesmo neste templo.

Baba, aconteça o que acontecer lembre-se que você é o que é assim como eu sou o que sou, nunca se esqueça que estamos aqui cumprindo com os desígnios do divino criador que é nosso pai.

Baba, não chegaste até aqui porque és fraco, bonito, ou qualquer outro adjetivo que venham a dar-lhe, chegaste até aqui por que tens a missão de reconduzir os filhos de Olorum na volta à sua morada sagrada.

Eu estou por aqui é só me chamar ahahahahahahahahahahahahahaha!

Até logo Pai.

Até logo senhor Tranca ruas.

Aquele pai de santo ainda chorou por um tempo e suas lágrimas lavaram seu coração sentiu uma brisa leve tocar seu rosto, abriu os olhos, estavam seu quarto no aconchego de seu lar, a luz dos divinos orixás ainda brilhavam diante de seus olhos, ele agradeceu e disse:

VALE A PENA.

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As Lagrimas de um Pai de Santo – VI https://templopenaazul.com.br/2024/07/05/as-lagrimas-de-um-pai-de-santo-vi/ https://templopenaazul.com.br/2024/07/05/as-lagrimas-de-um-pai-de-santo-vi/#respond Fri, 05 Jul 2024 16:55:20 +0000 https://templopenaazul.com.br/?p=326 O dia nasceu com todo seu esplendor, o sol brilhante como sempre irradiando seus raios e aquecendo toda a terra.

Aquele pai de santo levanta mais uma vez para cumprir com a missão que os divinos orixás haviam lhe dado mesmo antes de seu reencarne.

Caminhou pela rua, rumo ao seu trabalho, seu coração doía muito, sentiu medo, pois pensou estar doente, sentia-se indisposto.

Seu dia transcorreu normalmente, mas aquela angustia teimava em passar.

Ao final do dia dirigiu-se ao seu refugio, o templo sagrado, La chegando cumpriu com suas obrigações saudou suas forças e firmezas e entrou.

No silêncio do templo, mais uma vez ele olhou para o altar sagrado daquele templo, seus olhos já marejaram e ele sabia que as lágrimas cairiam mais uma vez.

Caminhou confiante até a frente do altar, bateu cabeça as divindades pedindo-lhes a benção, ajoelhou-se e começou sua oração.

Amado senhor Deus, eis aqui de joelhos vosso filho, amado pai mais uma vez venho a vossa divina presença clamar pelos meus semelhantes, somos todos muito pequeninos ainda para compreender seus caminhos pai.

Acalenta meu coração que chora por também não ser compreendido nos ensinamentos que tu me deste através das divindades da Umbanda sagrada, amado pai.

Enquanto orava seus olhos derramavam lágrimas sentidas lavando seu coração de pai.

Quando terminou sua oração que durou não se sabe quanto tempo ele sentiu atrás de si uma presença, ele se virou e viu um ser enorme parado a sua frente, o saudou reverente e manteve-se de joelhos.

Salve guardião?

Salve baba!

O que o trás aqui divino guardião?

Você me trás aqui baba!

Eu? Mas eu não o chamei guardião.

Como não. Não estava ai choramingando suas magoas?

Quem é você guardião?

Não aprendeste ainda que nomes é o que menos importa baba?

Sou apenas um servo de nosso criador amparando todos os que a ele recorrem em suas angustias e não sou seu senhor.

Porque você esta ai jogado no chão choramingando feito uma criança baba?

Não estou jogado no chão e não estava choramingando meu senhor.

Já disse que não sou teu senhor, sou apenas um guardião e servo estou aqui para servir e não para ser servido.

Guardião, eu apenas estava deixando meu coração falar e vós esta sendo muito duro comigo.

Duro eu? Você deve estar brincando, você esta ai se achando o ultimo dos babas, um desvalido espiritual, quando todas as força se convergem para você.

Fica ai ajoelhado chorando quando sabes que suas lagrimas não resolverão os problemas que tem enfrentado, é de pé que um filho dos divinos orixás luta, é de cabeça erguida que um filho dos divinos orixás caminha.

Mas guardião não é fácil ver as pessoas jogando fora os ensinamentos dados pelo amor de Olorun, muito me entristece quando vejo que quanto mais amo meus filhos mais incompreendido eu sou, quanto mais quero os ajudar mais parece que atrapalho suas vidas, quanto mais sorrisos distribuo mais olhares de revolta recebo, em minha posição muitas vezes tenho que tomar atitudes que vão de encontro aos anseios da coletividade e assim fazendo vou contra anseios particulares dos que comigo caminham.

É baba tanto já caminhaste e ainda não aprendeste nada, se caminham contigo devem obedecer as ordens dadas por ti e não questioná-las, só aprende quem já esta pronto para a lição,só ajudamos aqueles que a lei determina que estão prontos para tal, se você distribui sorriso e recebe olhares maldosos é porque seus filhos ainda carregam no coração as impurezas de uma alma pecadora passível de dor e sofrimento, baba nunca ouviste que um discípulo não deve procurar um mestre, que quando ele estiver pronto o mestre aparecera.

Você foi preparado para suportar a ingratidão, não venha chorar suas magoas para mim que não darei ouvidos, pois estou aqui em nome da lei divina para abrir seus olhos quanto aos trabalhos a serem realizados por ti.

Guardião, eu sei que assumi perante meus regentes a missão de conduzir os filhos de Olorun para a luz do saber sagrado, mas eles não querem ver a luz.

Claro que não querem. Quem que vive por tanto tempo na escuridão vai querer ver a luz que os cegara?

Assim são os que chegam até você baba seres que viviam escondidos na escuridão e que começam a divisar a luz de nosso criador, mas esta mesma luz os cega e então querem fugir novamente para as trevas, só que para isso precisam se desvencilhar de ti, ai é que vem os ataques e você vem até o altar divino derramar suas lagrimas quando deveria estar lutando para que os trevosos não conseguissem tomar de ti os filhos amados que Olorun confiou a ti.

Divino guardião sinto que as força me faltam, afinal também sou um ser humano e muitas vezes me canso de tanto lutar e só ver derrotas, vejo e vi já muita coisa e a história se repete, os filhos vão se unido e travando uma batalha com as desavenças e eu como pai de todos fico no meio deste fogo cruzado tentando salvar a ambos.

Baba, deixe que lutem ate a exaustão e quando não tiverem mais força, quando já tiverem perdido até a dignidade la estará você forte e pronto para levantá-los, pois nesta luta não haverá vencedor.

Aquele baba continuava de joelhos e seus olhos ainda vertiam lagrimas e a cada palavra do divino guardião seu peito apertava e doía ainda mais.

Baba, levante-se, enxugue estas lagrimas, pois não compactuo nem me condôo, portanto sabes que és o que és e o que precisas fazer, os divinos estão contigo e sempre estarão, mostre aos seus filhos que em todos os lugares existem lideres para serem seguidos, seja na luz ou nas trevas, és um guardião dos mistérios do divino criador, portanto não quero vê-lo no chão nunca mais, não perco meu tempo.

Aquele guardião sacou de sua espada sagrada a serviço da lei maior e tocou a testa do baba que estava se levantando, ao sentir o toque da espada aquele baba viu varias encarnações das quais muitas conseguiu cumprir sua missão e muitas outras em que falhara, justamente por dar ouvidos as pessoas que queriam voltar a viver nas trevas da ignorância.

Sentiu como que o fogo divino queimasse toda sua alma, foi purificado mais uma vez.

Quando abriu os olhos estava sozinho novamente em pé, diante do altar.

Ele olhou fixamente em todas as imagens representativas saldou-as e disse:

Sagrados orixás de Umbanda, que este baba seja um instrumento da lei maior e da justiça divina, faça de mim e em mim valer com que eu possa conduzir todos os que queiram ser conduzidos, que os que eu conduzir aprendam a obedecer as lei divinas e terrenas.

Amados orixás que aqueles que quiserem voltar a viver nas trevas, eu saiba o momento de soltar minha mão, pois que caia sozinho aquele que quer cair.

Ajoelhou-se, bateu cabeça reverente, beijou o solo sagrado do templo e dirigiu-se para seu lar, onde esposa e filhos o aguardavam com muito amor.

05/10/2010

Pai Vladmir do Oxossi.

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As Lagrimas de um Pai de Santo – V https://templopenaazul.com.br/2024/07/05/as-lagrimas-de-um-pai-de-santo-v/ https://templopenaazul.com.br/2024/07/05/as-lagrimas-de-um-pai-de-santo-v/#respond Fri, 05 Jul 2024 16:53:28 +0000 https://templopenaazul.com.br/?p=324 Naquele dia o pai de santo acordou bem, estava disposto, sabia que seria um

dia atribulado, já que era gira de guardião.

Foi ao seu trabalho, o dia transcorreu bem.

Quando chegou ao templo tudo estava perfeito, a gira começou, senhores Exus

chegando em terá, mostrando sua alegria, espargindo energia pelo ar.

O baba não esperava que tudo mudaria no decorrer da gira.

As consultas foram transcorrendo normalmente até que aquela consulente

entrou.

Foi atendida pelo guardião do baba que disse que teria que fazer um trabalho e

seria agora.

Após atender todas as pessoas, o guardião preparou tudo e iniciou o trabalho.

Muitas entidades estavam sustentando tudo que ali acontecia, o pai de santo a

tudo acompanhava, viu quando um portal negativo abriu sob os pés da

consulente, viu diversas entidades subirem por ele, atacavam a primeira

pessoa que viam e a todos os guardiões e guardiãs que estavam em terra

prendiam.

O Exu daquele baba disse que teria que descer as trevas, pois o líder daquela

legião não queria abandonar seu posto, isto feito, mandou que o baba se

preparasse pois desceria junto.

Foi uma descida muito rápida e aquele ser que guardava um ponto de força

nas trevas já não estava mais sentado em seu trono.

Haviam muitos espíritos perdidos naquele lugar e todos investiram sobre Sr.

Exú e aquele baba.

O guardião gritou para que aquele pai de santo ativasse seus poderes no que

lhe foi negado, mas a lei atua de formas estranha e aquele baba não conseguiu

conter a força que brotava de seu ser e explodiu em energia por todos os lados.

Todos os espíritos ali retidos foram esgotados por esta força, a tudo o baba

assistia, seus olhos começaram a marejar e ele não conteve mais o pranto,

chorou o seu choro dolorido que muitas vezes já vimos cair por causa de seus

filhos carnais.

Agora ele chorava por seus irmãos em espírito, chorava por suas quedas,

negou naquele momento que a lei estivesse sendo justa, pois acreditava que

poderia ser diferente.

Aquele pai de santo chorou tanto que até as entidades que ainda estavam em

terra sentiram-se preocupadas com ele, seus filhos de santo não entendiam por

que aquele baba chorava tanto.

A gira se encerrou, todos foram para seus lares, o baba se recolheu para o

descanso merecido, mas mal fechou os olhos e já estava de pé novamente, ao

seu lado estava o seu Exú guardião.

Vamos baba, ainda temos trabalho a fazer.

Mas não acabamos com tudo naquele reino?

Baba, nem tudo que vemos é do jeito que nos aparece, aquele reino continua

La e alguém terá que sustentá-lo, por isso vamos voltar até La.

Não gostaria de ir La outra vez guardião.

Eu disse a você que a próxima vez que suas lagrimas rolassem seria comigo.

Lembra?

Lembro-me sim guardião.

Pois bem, agora é a hora de entender porque elas caíram.

Sim.

Eles retornaram ao lugar que tinha sido devastado por um poder manifestado

por aquele baba, tudo Estava calmo, o silencio era mórbido, aquele pai de

santo olhou tudo a sua volta e suas lagrimas tornaram a cair.

O senhor Exú guardião o olhou com firmeza e disse:

Baba, por que realmente choras por quem não merece?

Meu senhor Exú, vós muito tem me ensinado ao longo destes anos, mas

acredito em Deus que todos merecem uma nova chance e estes meus irmãos

ao qual esgotei sem mesmo saber como não tiveram esta oportunidade.

Como não? A todos foi dada a opção de subir ou perecer, eles fizeram suas

escolhas, sabiam que a lei iria atuar aqui mais cedo ou mais tarde

Não meu senhor, não deveria ser assim, os seres foram criados por Olorum

nosso pai para galgar os degraus que elevam, não os que nos degradam.

Pois bem meu baba, eles galgaram degraus errados e pelos erros praticados

pagaram o preço.

Senhor Exú, sei que és a lei tanto no alto como no embaixo, mas acho que seu

trabalho lhe tirou um pouco de humanidade.

De jeito nenhum baba, sou o mais humano das entidades, somos nós que

estamos mais ligados a vocês que estão na carne, somos nós que

compreendemos vossas necessidades, por isso somos Exus.

Mas ainda assim acredito que a lei não foi justa neste caso.

Neste momento ouviram-se o trotar de um cavalo, aquele pai de santo no

mesmo momento caiu de joelhos e encostou sua testa no solo, pois sabia quem

se aproximava.

O trotar parou bem na frente deles, senhor Exú também estava de joelhos.

Salve divino guardião de meu criador.

Salve senhor da lei em toda criação.

Levantem-se.

Senhor Exú se levantou, mas aquele baba continuou com sal testa voltada para

o solo.

Levante-se também baba.

Meu senhor aprendi que na presença de um orixá devemos nos manter em

submissão a tão alta luz, perdoe-me.

Tem minha permissão para olhar-me baba.

O baba levantou-se, mas continuou com os olhos voltados para o solo.

Olha-me nos olhos baba, quero saber por que você esta colocando a atuação

da lei em prova.

Meu senhor, jamais colocaria a lei de nosso senhor a prova, apenas disse que…

Que erramos quando utilizamos de seu mistério e poder para acabar com as

injustiças e maldades praticadas por todos que aqui habitavam.

Eu, e sua lagrimas tornaram a rolar.

Baba você chora por aqueles que não tiveram piedade para com os

semelhantes, chora por seres que perderam a razão e agiam tão somente pela

emoção desvirtuada.

Não se iluda com visão do astral, pois pode estar enganado, utilize da razão

que lhe foi dada por nosso criador e jamais tire conclusões precipitadas.

Este reino estava sendo observado já a muito tempo, mas passaram dos limites

impostos pela lei de nosso senhor, você foi um instrumento na atuação da lei,

sinta-se feliz.

Meu senhor, jamais ficarei feliz quando um irmão meu seja na luz ou nas

trevas for esgotado por um poder que lateja em meu ser, é triste ver a criação

se voltar contra seu criador e ser esgotado por ele.

Mais uma vez perdoe-me.

Não há o que perdoar, mas lembre-se que toda vez que a lei precisa de um de

vocês encarnados, não pede vossa permissão para atuar, apenas atuamos.

Senhor permita que eu chore por ti também?

Chorar por mim? Não entendi por que você ira chorar por mim.

Chorarei por ti meu pai, por que és a lei de Olorum em toda a criação e assim

sendo terá que sustentar a todos que sua espada divina esgotar, terá tanto

espíritos e seres sob seu manto que um dia também aprendera a chorar por ele,

pois nossas lagrimas lavarão suas almas cansadas e as elevarão até nosso pai

criador.

Baba, permito que chore por mim a lei e por todos que por mim forem

esgotados, mas que suas lagrimas não molhem meus caminhos, pois neles só

os caídos são encontrados.

Aquele divino orixá se virou e partiu em disparada, o baba olhou para Exú que

sorria e perguntou:

O senhor nunca chora?

Baba, sou Exú, sou o mistério, sou a força e a sustentação, sou o caminho de

ida e de volta, sou a alegria, mas carrego a tristeza, de meus olhos jamais vera

cair uma lagrima, pois trabalho na minha gargalhada os mistérios da criação.

Sou o cair da noite e o raiar do dia, estou em cada encruzilhada e em cada

esquina, sou a voz de nosso senhor e o canto de nossos orixás, sou Exú baba.

Aquele pai de santo ajoelhou-se e orou, orou ao criador agradecendo por cada

momento ali passado, orou por suas lagrimas dolorosas que sempre teimam

em cair quando vê um ser criado por Deus se perdendo por não dar ouvidos a

lei maior, orou por todos aqueles que tentam se sustentar nesta mesma lei,

orou por todos aqueles que tentam de todas as maneiras derrubá-la se sucesso.

Senhor Exú olhou com carinho e disse:

Baba, vamos já é hora de voltar, seu trabalho aqui esta terminado.

Quando aquele pai de santo levantou-se, espantou-se com a visão que teve o

lugar antes sombrio e SM vida estava todo florido e com uma luz tênue a

clarear todo o lugar, suas lagrimas mais uma vez teimaram em cair e ele

agradeceu ao criador por tamanha beleza nas trevas da ignorância.

Em segundos já estavam de volta ao lar daquele pai de santo, Exú se despediu

prometendo que jamais o abandonaria, ele se deitou e dormiu, dormiu o sono

dos justos.

Quando acordou seus olhos ainda estavam úmidos, ele sorri e em voz alta

saudou.

Laroye senhor Exú.

Pai Vladmir do Oxossi

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As Lagrimas de um Pai de Santo – IV https://templopenaazul.com.br/2024/07/05/as-lagrimas-de-um-pai-de-santo-iv/ https://templopenaazul.com.br/2024/07/05/as-lagrimas-de-um-pai-de-santo-iv/#respond Fri, 05 Jul 2024 16:51:41 +0000 https://templopenaazul.com.br/?p=322 Aquele pai de santo tivera uma gira atribulada, muitos problemas a serem resolvidos, seus filhos não estavam se entendendo, as fofocas continuavam, intrigas infundadas que estavam causando desavenças, enfim, ele foi para seu lar com o coração apertado, sentia as forças lhe faltarem.

Quando foi se deitar, ajoelhou-se aos pés de sua cama e fez a sua oração, pediu aos sagrados orixás que lhe enviasse uma solução para tanta dor e incompreensão por parte dos seus filhos.

Deitou-se e tão logo fechou os olhos, sentiu que seu espírito havia sido retirado do corpo, muito assustado pensou:

Amado Deus meu, morri.

Quando se virou viu ao seu lado um índio muito grande e logo detectou que era seu caboclo, ajoelhou e o saudou com reverencia e a seguir lhe perguntou:

Meu pai querido, eu morri?

Não filho meu, você apenas está fora do corpo físico, todas as noites eu venho aqui para buscar-te e o levo ao aprendizado e trabalho, mas nesta noite suas orações foram ouvidas e você se lembrará de tudo que verá e ouvirá filho meu.

– Meu pai ,tenho muitas perguntas.

Tenha calma que tudo será esclarecido a você, venha, tenhamos pressa.

Ele pegou na mão daquele pai e saíram muito rápido de seu quarto quando deu por si estava em um lugar que é difícil de ser descrito, tamanha beleza e leveza.

Ele olhou tudo à sua volta, jamais tinha visto um lugar assim, o caboclo se sentou em uma pedra e pediu que ele se sentasse também, então começou a falar.

Filho do meu coração, tua dor está a incomodar nossas divindades, então estou aqui para te ensinar mais uma vez o modo de agir para com teus filhos de fé.

As lágrimas já começavam a brotar dos olhos daquele pai, não tinha como contê-las, então o caboclo falou.

Não derrame suas lágrimas, pois já lhe foi dito que são gotas de luz para os que sofrem, pois se tornam bálsamo curador, contenha-se.

Meu pai como conter as lágrimas ante tamanha beleza, não sou digno de estar aqui, por isso choro.

Filho se digno não fosse eu não o traria até aqui.

Preste atenção, você será levado ao conhecimento, portanto abra os olhos e ouvidos.

Ele mais uma vez pegou na mão daquele pai e numa velocidade inigualável viajaram, quando conseguiu ver onde estava eis que as lágrimas mais uma vez caíram de seus olhos abençoados.

Estava diante dos sete tronos divinos, onde assentados em cada um deles estavam seus pais e mães orixás, ele jogou-se ao chão, encostando sua testa no solo e em prantos os saudou pedindo suas sagradas bênçãos.

Uma voz muito suave se fez ouvir:

Filho de Olorum, por que choras?

Minha mãe divina, choro por estar diante de voz e destes meus pais e mães orixás.

E nossa presença causa-lhe dor?

Não minha mãe, muito pelo contrário, causa-me muita alegria.

Mas vieste até aqui com o coração dolorido, não foi?

Sim mãe divina, meu coração está cheio de dor pelos filhos que Olorum me confiaste e não consigo mostrar-lhes o caminho.

Filho, tu disseste que nossa presença lhe causa alegria, não é isso?

Sim mãe divina e sagrada, estar em vossas presenças me causa muita alegria.

Então filho do meu coração, por que não ensina aos teus filhos que só terão alegria estando em nossa presença e que nossa presença é constante na vida dos seres?

Ah, mãe querida, como gostaria que eles entendessem que só no seio dos sagrados orixás é que somos plenos.

– Filho levante-se.

Não sou digno de ficar de pé na presença de meus pais e mães orixás.

Neste momento ouviu-se uma voz que mais parecia um estrondo:

Filho meu, quem julga se és merecedor ou não sou eu e digo-te levanta teus olhos e nos olha de frente.

Aquele pai de santo levantou-se devagar e olhou seus pais e mães orixás um por um, as lágrimas desciam em sua face numa torrente, quase não conseguia falar, mas disse:

Amado pai Xangô, vós que sois a justiça divina e diz que sou merecedor de olhá-los de frente, ampara-me em seus braços fortes para que eu não caia em desespero.

Outra voz mais branda, mas ainda assim firme lhe disse:

Filhos dos orixás, você foi trazido até aqui para mais uma vez aprender o que já foi aprendido, não fostes escolhido por acaso, não és qualquer um, mesmo por que na criação não existe esta palavra, cada um é o um no criador, mostra não só aos teus filhos de fé que somos parte do um e ele por inteiro, mostra aos seres que somos a felicidade interna de todos vocês.

Amado pai Oxóssi, vós sois todo o conhecimento sei que sempre me impulsiona para que abra meu ser e aprenda, mas os seres humanos não querem aprender a amar, a se doar, a compreender.

Novamente a voz suave lhe falou:

Filho és fruto do desejo de Olorum, e o desejo dele é que mostre aos seus semelhantes que só vivendo em nós serão plenos em Olorum.

Amada mãe Yemanja, sei e compreendo suas palavras, mas faltam-me palavras humanas para expressá-las.

Amado filho meu, suas lágrimas estão formando um rio em meu reino e servirá para habitar e recolher todos que não ouvirem suas palavras.

Minha mamãe Oxum, encheste este meu coração de amor, o mais puro amor. Como doar todo este amor se as pessoas o confundem e criam heresias contra quem doa?

Amado filho de todos os orixás, somos a união de Olorum, somos o saber, a vida, a lei, a justiça, o amor, a evolução, a geração, o desejo, a renovação, o estímulo, a concentração, somos o tudo e o nada, o alto e o embaixo, somos o meio e no meio nós realizamos em todos vocês, a cada ser é dado uma parcela de nós, cada um de vocês nos carregam no mais íntimo, portanto nós somos vocês e vocês nos são.

Aprenda a compreender cada pessoa individualmente e a todos ao mesmo tempo, ainda que todos se reúnam em torno de uma divindade individual, pois cada ser é o que é único na criação.

Aprenderão na dor aqueles que não quiserem nos ouvir através de você, diga a todos que eu a todos perdôo, que cada palavra dita contra um irmão por mim estará perdoada, pois assim determina nosso criador Olorum.

E outra voz disse com firmeza e inflexibilidade:

Pai de santo, o babá Oxalá pode perdoar a todos, mas eu estarei sempre vigilante para que aqueles que não perdoarem e ainda lançarem calúnias contra os semelhantes, esteja a minha frente por que eu estarei na frente deles para que a lei seja cumprida.

Amados pai Oxalá e pai Ogum suas palavras acalentam meu coração eu sempre serei fiel aos ditames de Olorum nosso amado pai e divino criador, abençoe-me meus pais e mães orixás.

E todos em uma só voz o abençoaram.

O caboclo que a tudo assistia tomou-o pela mão e na velocidade que foram voltaram ao quarto daquele pai, ele ainda em prantos, pois não parara de chorar durante toda a conversa com seus pais e mães orixás olhou aquele caboclo de olhar sereno, mas firme e disse:

Amado pai caboclo, por muitas vezes quis desistir da missão que me foi dada, pois o fardo de escutar as pessoas é pesado, por muitas vezes quis desistir de lutar por não acreditar que as pessoas são capazes de mudar, por muitas vezes desanimei, portanto peço a ti que me de forças para continuar.

Filho guarda em seu ser vivo e imortal as palavras de nossos amados pais e mães orixás volta ao teu corpo que lembra-ras tudo que lhe foi dito, usa com sabedoria a sabedoria de nossos pais e mães, estarei bem aqui ao seu lado, conte comigo. E o caboclo sumiu como que por encanto.

Aquele pai de santo deitou-se sobre seu corpo e abriu os olhos, levantou-se olhou no relógio haviam se passado menos de uma hora, ainda com lágrimas nos olhos ele sorriu e pensou:

– Eu sei, sempre valera à pena.

Deitou-se e dormiu afinal no dia seguinte ele teria muito trabalho pela frente.

Pai Vladmir do Oxóssi

08/07/2010

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As Lagrimas de um Pai de Santo – III https://templopenaazul.com.br/2024/07/05/as-lagrimas-de-um-pai-de-santo-iii/ https://templopenaazul.com.br/2024/07/05/as-lagrimas-de-um-pai-de-santo-iii/#respond Fri, 05 Jul 2024 16:49:20 +0000 https://templopenaazul.com.br/?p=320 Finda-se os trabalhos no templo e aquele pai de santo vê seus filhos uma a um se retirarem após uma gira onde muitos foram atendidos.

O salão do templo vai ficando vazio, o silencio vai tomando conta do ambiente.

Agora ele esta só, olha para o congar, a velas queimando, iluminado cada imagem.

Aquele pai pensa nas coisas que vão acontecendo sem que ele possa mudar os rumos.

Mais uma vez ele ora aos seus orixás para que ampare seus filhos de fé, mais uma vez suas lagrimas teimam em cair, ele chora, seu choro é engasgado, silencioso.

De joelhos perante suas divindades ele ora:

Pai amado de amor e verdade, eu lhe peço mais uma vez, olhe por meus filhos de fé, são pequeninos ainda, não aprenderam a olhar-te de frente, mas sei que estas aqui e em todos os lugares.

Pai, divino criador Olorum, meus filhos não compreendem que vós os conduzistes até a Umbanda divina para aprenderem a serem pessoas melhores, mais humanas, mais humildes.

Sei que tenho a missão de conduzir estes teus filhos até tua presença, mas eles insistem no orgulho e na vaidade, auxilia-me a mostrar tua verdade a cada um.

Senhor deste-nos a Umbanda como religião, para que possamos ver na natureza sua face, olha-nos nos olhos pai.

E suas lagrimas rolavam.

Seus filhos de fé estavam envolvidos em fofocas e intrigas, o que estava desestabilizando todo o trabalho, aquele pai de santo tudo estava fazendo para que todos que ali chegassem sentissem a presença de Deus.

Quão doloridas são as lagrimas daqueles que amam e não enxergam mazelas e seus semelhantes.

E aquele pai chorava.

Ainda de joelhos, sentiu que algo estava acontecendo e abriu seus olhos, quando mirou seu altar sagrado viu uma luz rosa azulada, não conseguia ver além dela, chorou mais copiosamente ainda, pois sabia que ali estava uma divindade do pai maior.

Daquela luz uma voz suave se ouviu:

Filho do criador, filho meu, porque mais uma vez vem até este altar sagrado derramar suas lagrimas?

Amada mãe, mãe tenho ninguém que possa me consolar, por isso é aqui perante o sagrado que descarrego minhas dores e angustias.

Filho meu, não turve vosso coração, a tudo que se passa estamos vendo, somos a onipresença do criador, nada passa sem que nós não saibamos.

Mas, mãe divina dói quando passamos os ensinamentos e os mesmos são jogados fora.

Filho do meu criador, a cada um que é dado no futuro lhe será cobrado, não sofra pelas pessoas que não querem aprender a viver melhor.

Aquele pai chorava, suas lagrimas rolavam pelo rosto até caírem ao chão.

Filho já lhe Foi dito que suas lagrimas são gotas de luz para aqueles que sofrem, enxugue sua face, pois o trabalho chama.

Aquela luz foi o envolvendo, a paz foi tomando conta de todo o seu ser, sentiu como que uma mão acariciasse seu rosto, um leve toque.

A sua benção minha mãe Oxum, ainda que os filhos de Olorum não aprendam as coisas do amor, ainda que eu tenha que chorar todas as dores, estarei firme pois sei que estarás comigo.

Mamãe Oxum lhe sorriu e a luz foi se dissipando.

Aquele pai de santo levantou-se, sorriu e foi para seu lar aguardando os próximos trabalhos, pois sabia que todos estão sendo vigiados pelas divindades de Olorum o divino criador.

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As Lagrimas de um Pai de Santo – II https://templopenaazul.com.br/2024/07/05/as-lagrimas-de-um-pai-de-santo-ii/ https://templopenaazul.com.br/2024/07/05/as-lagrimas-de-um-pai-de-santo-ii/#respond Fri, 05 Jul 2024 16:45:17 +0000 https://templopenaazul.com.br/?p=318 Naquela manhã, ele acordou com o peito apertado, a tristeza teima em queimar seu peito.

Cumpriu seu ritual matinal e foi aos seus afazeres.

No cair da tarde, resolveu que iria ao templo, para quem sabe fazer um descarrego, não era dia de trabalho.

Ao chegar ao templo, mais uma vez contemplou sua grandeza, parou, olhou e absorto em seus pensamentos entrou. Saldou sua tronqueira com reverência e respeito a aqueles que em toda sua trajetória lhe dão sustentação e amparo.

Dirigiu-se ao interior do templo.

Mais uma vez ele olhou tudo ali, sentiu carinho na arrumação e pensou:

Os meus filhos arrumaram tudo isso com muito amor, cruzou o solo reverente e entrou.

Parou em frente ao altar, ajoelhou-se, cruzou o solo e disse:

Eu saúdo o seu em cima, o seu embaixo, o seu a direita e o seu a esquerda, dê licença de entrar em solo sagrado e me movimentar livremente por ele.

Permaneceu de joelhos e começou a chorar, suas lágrimas eram tão sentidas que o coração doía e quem pudesse ouvir seus soluços com ele choraria também.

Apenas seus gemidos eram ouvidos naquele silêncio.

Ele levanta seus olhos para o altar e diz:

Pai, porque tem que ser assim? Porque o ser humano não tem nada de humano? Porque ao invés do amor, as pessoas insistem em praticar maldades umas contra as outras?

E o silêncio novamente reinou naquele ambiente, chorava copiosamente aquele baba.

Foi no silêncio de seu coração que ouviu uma voz a lhe dizer:

Filho, porque choras tanto aos pés de vossos pais e mães orixás? Porque estas lavando com suas lágrimas de dor este solo sagrado?

Acaso esqueceste que sempre estive contigo?

Aquele baba parou seu pranto e passou a ouvir mais atentamente o que a voz lhe dizia.

Filho levante-se.

Ele se levantou.

Vire-se filho meu.

Ele virou-se.

Olhe filho meu. O que vê?

Ele olhou e viu seu templo repleto de pessoas, não havia lugar para tantos, muitos lhe sorriam, outros ainda carregavam em seus olhares as tristeza da vida. Viu muitos abraçados de seus familiares, pais, filhos, irmãos, parentes e amigos, todos estavam ali. Mas como?

E a voz mais uma vez lhe falou ao coração:

Filho meu, foste escolhido entre muitos por ter dentro de teu coração a pureza de um erê, a sabedoria de um preto-velho, a força de um caboclo e a retidão de um exú.

É você que deve amparar e não ser amparado, é você que deve ensinar e não ser ensinado, é você que deve compreender e não ser compreendido, é você que deve enxugar as lágrimas e não deixar que as suas caiam.

Não macule seu coração com as palavras daqueles que ainda não compreenderam que você é um pedaço de mim, mas eu sou você por inteiro, que é através de você que meus filhos me vêem.

Vire-se filho meu.

Ele se virou e viu, sentado em um banquinho muito simples, com suas roupas de saco, um cachimbo na boca e um sorriso que de tão largo iluminava todo o templo.

Ajoelhou-se, bateu cabeça e pediu a benção para aquele preto-velho que ali estava. Benção meu pai.

Era o senhor que falava comigo?

Era sim fio, mas não era eu hihi.

Como assim?

Fio, era o senhor de todos nós que só nos fala ao coração, só ouve a vos de Deus criador aquele que tem o coração puro e o objetivo de mostrá-lo na sua mais pura simplicidade.

Meu pai velho estou muito triste por que as pessoas não compreendem a missão do homem na terra, dói demais quando tentamos ensinar e vemos que falhamos em algum lugar do caminho.

Fio, quando sentimos que falhamos em algum lugar do caminho cabe a nós retornar a este ponto e fazer melhor, Deus sempre nos da tempo para que voltemos e reparemos aquilo que não fizemos direito, mas nem sempre a culpa é nossa, os fios é que não querem ouvir a palavra de Deus com simplicidade, querem pompas e estardalhaços, mas Deus só se manifesta pela voz do silencio e nos fala ao coração.

Meu pia, muitas vezes não sei o que fazer e nem como agir, tento ser amável mas as pessoas confundem e se aproveitam, isso cansa.

Fio, aqueles que foram escolhidos pelo criador para conduzirem seus filhos jamais serão conduzidos, sempre estarão a frente das batalhas por que lutam por aquilo que acreditam.

Suas lagrimas serão colhidas e guardadas em um frasco que se tornara um tesouro para nós, pois são lagrimas de um filho de Deus que sofre por seus semelhantes por não compreenderem que Deus o criador esta diante de cada um quando estão diante dos orixás e você fio, é o pólo de ligação entre estes fios e o pai, aquele que não acreditar que pague para ver, mas que depois aguarde a sua visita nas trevas para mais uma vez compreenderem que Deus esta em cada um de nós.

Vai fio, já é hora de você voltar aos seus, muito ainda há para fazer e todos nós contamos com você, ensine a todos o amor, a vida e a esperança.

Aquele baba abriu os olhos, pensando que tudo foi um sonho, seus olhos ainda vertiam suas lágrimas doloridas, olhou para o altar e viu nele uma rosa de pura luz, ainda sentado em seu banquinho estava aquele preto-velho a lhe sorrir, suas lágrimas rolaram ainda mais para aumentar o tesouro dos guias e orixás daquele templo.

Depois de algum tempo, ele se levantou, beijou seu congar e agradeceu ao pai criador por ser escolhido para a missão de conduzir a luz os que estão nas trevas da ignorância.

Pai Vladmir do Oxossi 17/03/2010

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As Lagrimas de um Pai de Santo – I https://templopenaazul.com.br/2024/07/05/as-lagrimas-de-um-pai-de-santo-i/ https://templopenaazul.com.br/2024/07/05/as-lagrimas-de-um-pai-de-santo-i/#respond Fri, 05 Jul 2024 16:43:57 +0000 https://templopenaazul.com.br/?p=315 Aquele pai estava triste, acordara com o peito apertado, uma angústia sem motivo aparente.

Passou o dia todo pensativo, foi para o terreiro mais cedo que o normal.

Entrou, saudou sua tronqueira e encaminhou-se para o interior do templo, parou na porta, olhou o piso, as paredes, o teto, cada detalhe que não são percebidos ao longo das giras.

Foi caminhando até o conga, parou e ficou a olhá-lo, cada imagem, cada detalhe, cada risco, quanto amor fora colocado ali para que tudo fosse realizado, para que um sonho fosse concretizado, quanta luz aquele altar já havia irradiado, quantas bênçãos.

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Olhou a imagem de Ogum, grande guerreiro, quantas lutas. Olhou os pretos velhos quanta sabedoria e humildade e assim foi percorrendo todas as imagens daquele seu altar até se deter na imagem de Oxalá, imponente, no mais alto posto a tudo vigia, mas seus olhos já não podiam ver, pois as lágrimas corriam pelo seu rosto.

Ajoelhou-se perante aquele altar e chorou suas lágrimas, uma a uma foram caindo, lavando o chão sagrado daquele templo.

As lágrimas daquele Babalaô pareciam falar.

Falavam da incompreensão das pessoas, de quantos já haviam passado por aquele templo e nunca mais voltaram. Falavam dos rancores e das oportunidades perdidas.

Falavam dos seus filhos que vieram até suas mãos que os acolheu e acalentou até que eles estivessem prontos para trilharem novos caminhos.

Falavam daqueles que partiram para o plano espiritual e deixaram saudades.

Uma a uma as suas lágrimas foram caindo e cada uma delas lhe falava ao coração, até que a última lágrima rolou pelo seu rosto, só que esta era cristalina e parecia lhe dizer:

Eu sou o próprio Oxalá que vive em você, posso rolar pelo seu rosto e ir ao chão, mas jamais deixarei de estar em seu coração, continue a amparar meus filhos que o recompensarei com as asas da liberdade.

Aquele Babalaô levantou-se lavou o rosto e realizou a melhor gira de Umbanda de sua vida até aquele dia.

Abençoou todos os seus filhos e compreendeu seu trabalho.

Dormiu tranquilo, missão cumprida.

Pai Vladmir

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O Nascimento da Umbanda https://templopenaazul.com.br/2024/06/20/o-nascimento-da-umbanda/ https://templopenaazul.com.br/2024/06/20/o-nascimento-da-umbanda/#respond Thu, 20 Jun 2024 20:03:46 +0000 https://tupenaazul.leandroserain.com.br/?p=121 Fala Galerinha Macumbistica do Bem!

Diferente do que se fala e do contexto popular, a umbanda não tem origem africana, você sabia?(OW MEU DEUS, TUDO QUE SEMPRE ACREDITEI EH UMA MENTIRA?)

Não necessariamente, mas vamos falar um pouco mais sobre isso pra você.

Nasceu aqui no brasil, muito do brasileiro e se colocou não somente para ajudar, mas para quebrar os preconceitos da Sem sugestões!

O texto que se segue foi baseado em informações verídicas obtidas diretamente de fitas gravadas pela senhora Lilian Ribeiro, presidente da Tenda de Umbanda Luz, Esperança, Fraternidade (TULEF), que contêm os fatos históricos narrados, possíveis de serem escutados na voz de Zélio de Moraes, manifestado mediunicamente com o Caboclo das Sete Encruzilhadas. Em 2 de novembro de 2005 visitamos dona Zilméia em sua residência, em Niterói, Rio de Janeiro, oportunidade em que também conhecemos dona Lygia Moraes, respectivamente filha e neta de Zélio, dando conhecimento a ambas do presente texto, do qual obtivemos a confirmação sobre sua autenticidade e permissão para divulgá-lo.

No final de 1908, Zélio Fernandino de Moraes, um jovem de 17 anos que se preparava para ingressar na carreira militar, começou a sofrer estranhos surtos, durante os quais se transfigurava totalmente, adotando a postura de um idoso, com sotaque diferente e tom manso, como se fosse uma pessoa que tivesse vivido em outra época. Muitas vezes, assumia uma forma que mais parecia a de um felino lépido e desembaraçado que mostrava conhecer muitas coisas da natureza.

A família do rapaz, residente e conhecida na cidade de Neves, estado do Rio de Janeiro, ficou bastante assustada com esses acontecimentos, achando, a princípio, que o rapaz apresentava algum distúrbio mental repentino. Por isso, o encaminhou a um psiquiatra que, após examiná-lo durante vários dias, sugeriu que o conduzissem a um padre, pois os sintomas apresentados não eram encontrados em nenhuma literatura médica.

O pai de Zélio, que era simpatizante do espiritismo e costumava ler livros espíritas, resolveu levá-lo a uma sessão na Federação Espírita de Niterói, presidida na época por José de Souza, em que o jovem foi convidado a ocupar um lugar à mesa. Então, tomado por uma força estranha alheia à sua vontade, e contrariando -as normas da casa que impediam o afastamento de qualquer dos componentes da mesa, ele levantou-se e disse: “Aqui está faltando uma flor”.

Em seguida, saiu da sala, dirigiu-se ao jardim e retornou com uma flor nas mãos, que colocou no centro da mesa. Tal atitude causou um enorme tumulto entre os presentes.

Restabelecidos os trabalhos, manifestaram-se nos médiuns kardecistas entidades que se diziam pretos escravos e índios, ao que o dirigente da casa achou um absurdo. Então, os advertiu com aspereza, alegando “atraso espiritual”, e convidou-os a se retirarem.

Após esse incidente, novamente uma força estranha tomou o jovem Zélio e, através dele, falou: “Por que repelem a presença desses espíritos, se nem sequer se dignaram a ouvir suas mensagens. É por causa de suas origens e de sua cor?”.

Seguiu-se um diálogo acalorado. Os responsáveis pela sessão procuravam doutrinar e afastar o espírito desconhecido, que desenvolvia uma argumentação segura. Um médium vidente perguntou à entidade: “Por que o irmão fala nesses termos, pretendendo que a direção aceite a

manifestação de espíritos que, pelo grau cultural que tiveram quando encarnados, são claramente atrasados? Por que fala desse modo, se estou vendo que me dirijo a um jesuíta, cuja veste branca reflete uma aura de luz? Qual é o seu verdadeiro nome, irmão?”.

O espírito desconhecido então respondeu: “Se querem um nome, que seja este: Caboclo das Sete Encruzilhadas, pois para mim não haverá caminhos fechados. O que você vê em mim são resquícios de uma encarnação em que fui o padre Gabriel Malagrida. Acusado de bruxaria, fui sacrificado na fogueira da Inquisição, em Lisboa, no ano de 1761. Mas, em minha última existência física, Deus me concedeu o privilégio de reencarnar como um caboclo brasileiro”.

Prosseguindo, a entidade revelou a missão que trazia do Astral: “Se julgam atrasados os espíritos de pretos e índios, devo dizer que amanhã (16 de novembro) estarei na casa de meu aparelho, às 20 horas, para dar início a um culto em que esses irmãos poderão transmitir suas mensagens e cumprir a missão que o plano espiritual lhes confiou. Será uma religião que falará aos humildes, simbolizando a igualdade que deve haver entre todos, encarnados e desencarnados”.

O vidente retrucou com ironia: “Julga o irmão que alguém irá assistir a seu culto?”. Ao que o espírito respondeu: “Cada colina da cidade de Niterói atuará como porta-voz, anunciando o culto que será iniciado amanhã”.

Para finalizar, o caboclo completou: “Deus, em Sua infinita bondade, estabeleceu na morte o grande nivelador universal. Rico ou pobre, poderoso ou humilde, todos se tornam iguais perante o desenlace, mas vocês, homens preconceituosos, não contentes em estabelecer diferenças entre os vivos, procuram levar essas diferenças além da barreira da morte. Por que não poderiam nos visitar esses humildes trabalhadores do Espaço, se, apesar de não terem tido destaque social na Terra, também trazem importantes mensagens do Além?”.

No dia seguinte, na casa da família Moraes, na rua Floriano Peixoto, número 30, ao se aproximar a hora marcada, estavam reunidos os membros da Federação Espírita, os parentes mais próximos de Zélio, amigos e vizinhos, para comprovarem a veracidade do que fora declarado na véspera, e, do lado de fora, uma multidão de desconhecidos.

Às 20 horas em ponto, manifestou-se o Caboclo das Sete Encruzilhadas, para declarar que naquele momento se iniciava um novo culto, em que os espíritos de velhos africanos escravos e de índios brasileiros, os quais não encontravam campo de atuação nos remanescentes das seitas negras, já deturpadas e dirigidas em sua totalidade para os trabalhos de feitiçaria, trabalhariam em benefício de seus irmãos encarnados, qualquer que fosse a cor, a raça, o credo e a condição social. A prática da caridade, no sentido do amor fraterno, seria a característica principal do culto que

teria por base o Evangelho de Jesus.

Desse modo, o caboclo estabeleceu as normas em que se processariam as sessões: os participantes estariam uniformizados de branco, o atendimento seria gratuito e diário. Deu também nome ao movimento religioso, que passou a se chamar “umbanda”, uma manifestação do espírito para a caridade.

A casa de trabalhos espirituais que ora se fundava foi chamada de Nossa Senhora da Piedade, pois assim como Maria acolheu o filho nos braços, ali também seriam acolhidos como filhos todos os que necessitassem de ajuda ou de conforto.

Ditadas as bases do culto, após responder em latim e alemão às perguntas dos sacerdotes presentes, o Caboclo das Sete Encruzilhadas passou à parte prática dos trabalhos: foi atender um paralítico, fazendo-o ficar totalmente curado, além de prestar socorro a outras pessoas presentes.

Nesse mesmo dia, Zélio incorporou um preto velho chamado Pai Antônio, aquele que, com fala mansa, foi confundido com uma manifestação de loucura de seu aparelho. Com palavras de muita sabedoria e humildade, e uma timidez aparente, recusava-se a sentar-se junto com os componentes da mesa, dizendo as seguintes palavras: “Nêgo num senta não, meu sinhô; nêgo fica aqui mesmo. Isso é coisa de sinhô branco, e nêgo deve arrespeitá”.

Depois da insistência dos presentes, a entidade respondeu: “Num carece preocupá não. Nêgo fica no toco que é lugá di nego”.

Assim, continuou dizendo outras palavras que demonstravam a sua humildade. Uma assistente perguntou se ele sentia falta de algo que havia deixado na Terra, ao que o preto velho respondeu: “Minha caximba. Nêgo qué o pito que deixou no toco. Manda mureque busca”.

Tal afirmativa deixou a todos perplexos, pois presenciavam a solicitação do primeiro elemento de trabalho para a religião recém-fundada, pois foi Pai Antonio a primeira entidade a

solicitar uma guia, até hoje usada pelos membros da Tenda e carinhosamente chamada de “Guia de Pai Antonio”.

No dia seguinte, uma verdadeira romaria formou-se na rua Floriano Peixoto. Enfermos, cegos e outros necessitados iam em busca de cura e ali a encontravam, em nome de Jesus.

Médiuns, cuja manifestação mediúnica fora considerada loucura, deixaram os sanatórios e deram provas de suas qualidades excepcionais. A partir daí, o Caboclo das Sete Encruzilhadas começou a trabalhar incessantemente para o esclarecimento, difusão e sedimentação da umbanda. Além de Pai Antônio, tinha como auxiliar o Caboclo Orixá Malé, entidade com grande experiência no desmanche de trabalhos de baixa magia.

Em 1918, o Caboclo das Sete Encruzilhadas recebeu ordens do Astral superior para fundar sete tendas para a propagação da umbanda. As agremiações ganharam os seguintes nomes: Tenda Espírita Nossa Senhora da Guia, Tenda Espírita Nossa Senhora da Conceição, Tenda Espírita Santa Bárbara, Tenda Espírita São Pedro, Tenda Espírita Oxalá, Tenda Espírita São Jorge e Tenda Espírita São Jerônimo. Enquanto Zélio estava encarnado, foram fundadas mais de 10 mil tendas, a

partir das mencionadas.

Embora não tivesse dado continuidade à carreira militar para a qual se preparara, pois sua missão mediúnica não o permitiu, Zélio Fernandino de Moraes nunca fez da religião sua profissão. Trabalhava para o sustento da família, e diversas vezes contribuiu financeiramente para manter os

templos que o Caboclo das Sete Encruzilhadas fundou, além das pessoas que se hospedavam em sua casa para os tratamentos espirituais, a qual, segundo dizem, mais parecia um albergue. Nunca aceitou ajuda monetária de ninguém; era ordem do seu guia-chefe, embora tivesse recebido inúmeras ofertas.

Ministros, industriais e militares que recorriam ao poder mediúnico de Zélio para a cura de parentes enfermos, vendo-os recuperados, procuravam retribuir o benefício com presentes, ou preenchendo cheques vultosos. “Não os aceite. Devolva-os!”, ordenava sempre o caboclo.

O termo “espírita” foi utilizado nas tendas recém-fundadas porque naquela época não se podia registrar o nome “umbanda”. Quanto aos nomes de santos, era uma maneira de estabelecer um ponto de referência para fiéis da religião católica que procuravam os préstimos da umbanda.

O ritual estabelecido pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas era bem simples: cânticos baixos e harmoniosos – sem utilizar atabaques e palmas -, vestimenta branca e proibição de sacrifícios de animais. Capacetes, espadas, cocares, vestimentas de cor, rendas e lamês não eram aceitos. As

guias usadas eram apenas as determinadas pela entidade que se manifestava. Os banhos de ervas, os amacis, a concentração nos ambientes vibratórios da natureza e o ensinamento doutrinário com base no Evangelho constituíam os principais elementos de preparação do médium.

Os atabaques começaram a ser usados com o passar do tempo por algumas das casas fundadas pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas, mas a Tenda Nossa Senhora da Piedade não os utiliza em seu ritual até o dia de hoje.

Após 55 anos de atividades à frente da Tenda Nossa Senhora da Piedade, Zélio entregou a direção dos trabalhos às suas filhas Zélia e Zilméa, continuando a trabalhar junto com sua esposa Isabel, médium que incorporava o Caboclo Roxo, na Cabana de Pai Antônio, em Boca do Mato,

distrito de Cachoeiras de Macacu, no Rio de Janeiro, onde dedicou a maior parte das horas de seu dia ao atendimento de portadores de enfermidades psíquicas e a todos os que o procuravam.

Em 1971, a senhora Lilia Ribeiro, diretora da Tenda de Umbanda Luz, Esperança, Fraternidade (TULEF) gravou uma mensagem do Caboclo das Sete Encruzilhadas, que espelha

bem a humildade e o alto grau de evolução dessa entidade de luz:

A umbanda tem progredido e vai progredir ainda mais. É preciso haver sinceridade, honestidade. Eu previno sempre aos companheiros de muitos anos: a vil moeda vai prejudicar a umbanda; médiuns irão se vender e serão expulsos mais tarde, como Jesus expulsou os vendilhões do templo. O perigo do médium homem é a consulente mulher; do médium mulher, é o consulente homem. É preciso estar sempre de prevenção, porque os próprios obsessores que procuram atacar as nossas casas fazem com que toque alguma coisa no coração da mulher que fala ao pai de terreiro, como no coração do homem que fala à mãe de terreiro. É preciso haver muita moral para que a umbanda progrida, seja forte e coesa. Umbanda é humildade, amor e caridade – essa é a nossa bandeira.

Neste momento, meus irmãos, me rodeiam diversos espíritos que trabalham na umbanda do Brasil: caboclos de Oxossi, de Ogum, de Xangô. Eu, porém, sou da falange de Oxossi, meu pai, e não vim por acaso, trouxe uma ordem, uma missão. Meus irmãos, sede humildes, tende amor no coração, amor de irmão para irmão, porque vossas mediunidades ficarão mais puras, servindo aos espíritos superiores que venham trabalhar entre vós.

É preciso que os aparelhos estejam sempre limpos, os instrumentos afinados com as virtudes que Jesus pregou na Terra, para que tenhamos boas comunicações e proteção para aqueles que vêm em busca de socorro nas casas de umbanda.

Meus irmãos, meu aparelho já está velho, com 80 anos a fazer, mas começou antes dos dezoito. Posso dizer que o ajudei a se casar, para que não estivesse a dar cabeçadas, para que fosse um médium aproveitável e que, pela sua mediunidade, eu pudesse implantar a nossa umbanda. A

maior parte dos que trabalham na umbanda, se não passaram por esta Tenda, passaram pelas que saíram desta casa.

Tenho uma coisa a vos pedir: se Jesus veio ao planeta Terra na humildade de uma manjedoura, não foi por acaso; assim o Pai determinou. Podia ter procurado a casa de um potentado da época, mas foi escolher naquela que poderia ser sua mãe um espírito excelso, amoroso e abnegado. Que o nascimento de Jesus e a humildade que Ele demonstrou na Terra sirvam de exemplo a todos, iluminando os vossos espíritos, extraindo a maldade dos pensamentos ou das práticas. Que Deus perdoe as maldades que possam ter sido pensadas, para que a paz reine em vossos corações e nos vossos lares. Fechai os olhos para a casa do vizinho; fechai a boca para não murmurar contra quem quer que seja; não julgueis para não serdes julgados; acreditai em Deus

e a paz entrará em vosso lar. É dos Evangelhos. Eu, meus irmãos, como o menor espírito que baixou à Terra, porém amigo de todos, numa comunhão perfeita com companheiros que me rodeiam neste momento, peço que eles observem a necessidade de cada um de vós e que, ao sairdes deste templo de caridade, encontreis os caminhos abertos, vossos enfermos curados, e a saúde para sempre em vossa matéria. Com um voto de paz, saúde e felicidade, com humildade,

amor e caridade, sou e sempre serei o humilde Caboclo das Sete Encruzilhadas.

Zélio Fernandino de Moraes dedicou 66 anos de sua vida à umbanda, tendo retornado ao plano espiritual em 3 de outubro de 1975, com a certeza da missão cumprida. Seu trabalho e as diretrizes traçadas pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas continuam em ação por intermédio de suas

filhas Zélia e Zilméa de Moraes, que têm em seus corações um grande amor pela umbanda, árvore frondosa que está sempre a dar frutos a quem souber e merecer colhê-los

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