Naquele dia o pai de santo acordou bem, estava disposto, sabia que seria um
dia atribulado, já que era gira de guardião.
Foi ao seu trabalho, o dia transcorreu bem.
Quando chegou ao templo tudo estava perfeito, a gira começou, senhores Exus
chegando em terá, mostrando sua alegria, espargindo energia pelo ar.
O baba não esperava que tudo mudaria no decorrer da gira.
As consultas foram transcorrendo normalmente até que aquela consulente
entrou.
Foi atendida pelo guardião do baba que disse que teria que fazer um trabalho e
seria agora.
Após atender todas as pessoas, o guardião preparou tudo e iniciou o trabalho.
Muitas entidades estavam sustentando tudo que ali acontecia, o pai de santo a
tudo acompanhava, viu quando um portal negativo abriu sob os pés da
consulente, viu diversas entidades subirem por ele, atacavam a primeira
pessoa que viam e a todos os guardiões e guardiãs que estavam em terra
prendiam.
O Exu daquele baba disse que teria que descer as trevas, pois o líder daquela
legião não queria abandonar seu posto, isto feito, mandou que o baba se
preparasse pois desceria junto.
Foi uma descida muito rápida e aquele ser que guardava um ponto de força
nas trevas já não estava mais sentado em seu trono.
Haviam muitos espíritos perdidos naquele lugar e todos investiram sobre Sr.
Exú e aquele baba.
O guardião gritou para que aquele pai de santo ativasse seus poderes no que
lhe foi negado, mas a lei atua de formas estranha e aquele baba não conseguiu
conter a força que brotava de seu ser e explodiu em energia por todos os lados.
Todos os espíritos ali retidos foram esgotados por esta força, a tudo o baba
assistia, seus olhos começaram a marejar e ele não conteve mais o pranto,
chorou o seu choro dolorido que muitas vezes já vimos cair por causa de seus
filhos carnais.
Agora ele chorava por seus irmãos em espírito, chorava por suas quedas,
negou naquele momento que a lei estivesse sendo justa, pois acreditava que
poderia ser diferente.
Aquele pai de santo chorou tanto que até as entidades que ainda estavam em
terra sentiram-se preocupadas com ele, seus filhos de santo não entendiam por
que aquele baba chorava tanto.
A gira se encerrou, todos foram para seus lares, o baba se recolheu para o
descanso merecido, mas mal fechou os olhos e já estava de pé novamente, ao
seu lado estava o seu Exú guardião.
Vamos baba, ainda temos trabalho a fazer.
Mas não acabamos com tudo naquele reino?
Baba, nem tudo que vemos é do jeito que nos aparece, aquele reino continua
La e alguém terá que sustentá-lo, por isso vamos voltar até La.
Não gostaria de ir La outra vez guardião.
Eu disse a você que a próxima vez que suas lagrimas rolassem seria comigo.
Lembra?
Lembro-me sim guardião.
Pois bem, agora é a hora de entender porque elas caíram.
Sim.
Eles retornaram ao lugar que tinha sido devastado por um poder manifestado
por aquele baba, tudo Estava calmo, o silencio era mórbido, aquele pai de
santo olhou tudo a sua volta e suas lagrimas tornaram a cair.
O senhor Exú guardião o olhou com firmeza e disse:
Baba, por que realmente choras por quem não merece?
Meu senhor Exú, vós muito tem me ensinado ao longo destes anos, mas
acredito em Deus que todos merecem uma nova chance e estes meus irmãos
ao qual esgotei sem mesmo saber como não tiveram esta oportunidade.
Como não? A todos foi dada a opção de subir ou perecer, eles fizeram suas
escolhas, sabiam que a lei iria atuar aqui mais cedo ou mais tarde
Não meu senhor, não deveria ser assim, os seres foram criados por Olorum
nosso pai para galgar os degraus que elevam, não os que nos degradam.
Pois bem meu baba, eles galgaram degraus errados e pelos erros praticados
pagaram o preço.
Senhor Exú, sei que és a lei tanto no alto como no embaixo, mas acho que seu
trabalho lhe tirou um pouco de humanidade.
De jeito nenhum baba, sou o mais humano das entidades, somos nós que
estamos mais ligados a vocês que estão na carne, somos nós que
compreendemos vossas necessidades, por isso somos Exus.
Mas ainda assim acredito que a lei não foi justa neste caso.
Neste momento ouviram-se o trotar de um cavalo, aquele pai de santo no
mesmo momento caiu de joelhos e encostou sua testa no solo, pois sabia quem
se aproximava.
O trotar parou bem na frente deles, senhor Exú também estava de joelhos.
Salve divino guardião de meu criador.
Salve senhor da lei em toda criação.
Levantem-se.
Senhor Exú se levantou, mas aquele baba continuou com sal testa voltada para
o solo.
Levante-se também baba.
Meu senhor aprendi que na presença de um orixá devemos nos manter em
submissão a tão alta luz, perdoe-me.
Tem minha permissão para olhar-me baba.
O baba levantou-se, mas continuou com os olhos voltados para o solo.
Olha-me nos olhos baba, quero saber por que você esta colocando a atuação
da lei em prova.
Meu senhor, jamais colocaria a lei de nosso senhor a prova, apenas disse que…
Que erramos quando utilizamos de seu mistério e poder para acabar com as
injustiças e maldades praticadas por todos que aqui habitavam.
Eu, e sua lagrimas tornaram a rolar.
Baba você chora por aqueles que não tiveram piedade para com os
semelhantes, chora por seres que perderam a razão e agiam tão somente pela
emoção desvirtuada.
Não se iluda com visão do astral, pois pode estar enganado, utilize da razão
que lhe foi dada por nosso criador e jamais tire conclusões precipitadas.
Este reino estava sendo observado já a muito tempo, mas passaram dos limites
impostos pela lei de nosso senhor, você foi um instrumento na atuação da lei,
sinta-se feliz.
Meu senhor, jamais ficarei feliz quando um irmão meu seja na luz ou nas
trevas for esgotado por um poder que lateja em meu ser, é triste ver a criação
se voltar contra seu criador e ser esgotado por ele.
Mais uma vez perdoe-me.
Não há o que perdoar, mas lembre-se que toda vez que a lei precisa de um de
vocês encarnados, não pede vossa permissão para atuar, apenas atuamos.
Senhor permita que eu chore por ti também?
Chorar por mim? Não entendi por que você ira chorar por mim.
Chorarei por ti meu pai, por que és a lei de Olorum em toda a criação e assim
sendo terá que sustentar a todos que sua espada divina esgotar, terá tanto
espíritos e seres sob seu manto que um dia também aprendera a chorar por ele,
pois nossas lagrimas lavarão suas almas cansadas e as elevarão até nosso pai
criador.
Baba, permito que chore por mim a lei e por todos que por mim forem
esgotados, mas que suas lagrimas não molhem meus caminhos, pois neles só
os caídos são encontrados.
Aquele divino orixá se virou e partiu em disparada, o baba olhou para Exú que
sorria e perguntou:
O senhor nunca chora?
Baba, sou Exú, sou o mistério, sou a força e a sustentação, sou o caminho de
ida e de volta, sou a alegria, mas carrego a tristeza, de meus olhos jamais vera
cair uma lagrima, pois trabalho na minha gargalhada os mistérios da criação.
Sou o cair da noite e o raiar do dia, estou em cada encruzilhada e em cada
esquina, sou a voz de nosso senhor e o canto de nossos orixás, sou Exú baba.
Aquele pai de santo ajoelhou-se e orou, orou ao criador agradecendo por cada
momento ali passado, orou por suas lagrimas dolorosas que sempre teimam
em cair quando vê um ser criado por Deus se perdendo por não dar ouvidos a
lei maior, orou por todos aqueles que tentam se sustentar nesta mesma lei,
orou por todos aqueles que tentam de todas as maneiras derrubá-la se sucesso.
Senhor Exú olhou com carinho e disse:
Baba, vamos já é hora de voltar, seu trabalho aqui esta terminado.
Quando aquele pai de santo levantou-se, espantou-se com a visão que teve o
lugar antes sombrio e SM vida estava todo florido e com uma luz tênue a
clarear todo o lugar, suas lagrimas mais uma vez teimaram em cair e ele
agradeceu ao criador por tamanha beleza nas trevas da ignorância.
Em segundos já estavam de volta ao lar daquele pai de santo, Exú se despediu
prometendo que jamais o abandonaria, ele se deitou e dormiu, dormiu o sono
dos justos.
Quando acordou seus olhos ainda estavam úmidos, ele sorri e em voz alta
saudou.
Laroye senhor Exú.
Pai Vladmir do Oxossi