As Lagrimas de um Pai de Santo – I

Aquele pai estava triste, acordara com o peito apertado, uma angústia sem motivo aparente.

Passou o dia todo pensativo, foi para o terreiro mais cedo que o normal.

Entrou, saudou sua tronqueira e encaminhou-se para o interior do templo, parou na porta, olhou o piso, as paredes, o teto, cada detalhe que não são percebidos ao longo das giras.

Foi caminhando até o conga, parou e ficou a olhá-lo, cada imagem, cada detalhe, cada risco, quanto amor fora colocado ali para que tudo fosse realizado, para que um sonho fosse concretizado, quanta luz aquele altar já havia irradiado, quantas bênçãos.

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Olhou a imagem de Ogum, grande guerreiro, quantas lutas. Olhou os pretos velhos quanta sabedoria e humildade e assim foi percorrendo todas as imagens daquele seu altar até se deter na imagem de Oxalá, imponente, no mais alto posto a tudo vigia, mas seus olhos já não podiam ver, pois as lágrimas corriam pelo seu rosto.

Ajoelhou-se perante aquele altar e chorou suas lágrimas, uma a uma foram caindo, lavando o chão sagrado daquele templo.

As lágrimas daquele Babalaô pareciam falar.

Falavam da incompreensão das pessoas, de quantos já haviam passado por aquele templo e nunca mais voltaram. Falavam dos rancores e das oportunidades perdidas.

Falavam dos seus filhos que vieram até suas mãos que os acolheu e acalentou até que eles estivessem prontos para trilharem novos caminhos.

Falavam daqueles que partiram para o plano espiritual e deixaram saudades.

Uma a uma as suas lágrimas foram caindo e cada uma delas lhe falava ao coração, até que a última lágrima rolou pelo seu rosto, só que esta era cristalina e parecia lhe dizer:

Eu sou o próprio Oxalá que vive em você, posso rolar pelo seu rosto e ir ao chão, mas jamais deixarei de estar em seu coração, continue a amparar meus filhos que o recompensarei com as asas da liberdade.

Aquele Babalaô levantou-se lavou o rosto e realizou a melhor gira de Umbanda de sua vida até aquele dia.

Abençoou todos os seus filhos e compreendeu seu trabalho.

Dormiu tranquilo, missão cumprida.

Pai Vladmir

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